quarta-feira, 15 de julho de 2015

O que é Igreja?


quinta-feira, 31 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

O CANSAÇO MINISTERIAL DA FAMÍLIA PASTORAL?

O CANSAÇO MINISTERIAL DA FAMÍLIA PASTORAL?

 

Por Valter Moura
Um dos obstáculos mais complicados a ser encarado pela família pastoral está relacionado com o cansaço ministerial. Pastores e pastoras, suas esposas, seus esposos e filhos tem se deparado com este fato, que ao meu ver, é inevitável dentro do círculo ministerial. Em alguns casos, este cansaço parece fatal, causando a desmotivação e o desligamento do próprio pastor do seu ministério, enquanto que em outras situações, permanece o pastor no ministério, sem, no entanto, a sua família.
Ao longo dos meus quinze anos de ministério já dividi com a minha família estes momentos. O problema não estava em mim, ou em minha esposa ou nos meus filhos. Quantas foram as vezes em que carregamos a culpa diante daqueles momentos, pensando que estávamos sendo vítimas de “fraqueza espiritual”. Contudo, no decorrer destes anos tenho percebido que centenas de colegas de ministério compartilham comigo do mesmo fato. Recordo-me do dia em que tive a oportunidade de visitar um colega cujo trabalho estava marcado pelos sinais de um ministério de êxito. Sua igreja estava cheia, havia ministérios muito bem organizados e liderados por uma equipe bastante competente. A igreja mantinha um notável ministério de engajamento social na cidade e, apesar de tudo, o meu colega confidenciou, “Eu e minha esposa estamos cansados de tudo isso.” Perguntas inevitáveis me vieram à mente e eu e minha esposa temos ainda tentado respondê-las. Perguntas que você e sua família estão certamente fazendo. No que consiste este cansaço ministerial? Quais os fatores causadores deste esgotamento ministerial na família pastoral? Quais são as possíveis conseqüências e como lutar contra elas?
Ao meu ver, poderíamos definir cansaço ministerial como sendo um esgotamento, um estado de fadiga e desmotivação para com uma causa para a qual você entregou a sua vida, seus talentos e seu tempo. A expressão chave nesta definição é desmotivação para com uma causa. A verdade mais óbvia em relação à desmotivação é que ela acontece em circunstâncias em que os resultados finais não justificam o empenho da dedicação. Ouvi de um pastor amigo que vivia um situação de cansaço ministerial, pastoreando uma igreja média, a seguinte palavra: “Valter, não estou cansado de Deus e nem da vocação, mas da igreja.” Cada vez mais ouço dizer do cansaço dos heróis da igreja evangélica brasileira. Culpá-los? Dizer que estão fraquejando? Não, eu não creio que esta seja uma avaliação justa. Eles e suas famílias estão simplesmente cansados e, talvez, cansados do que viram e do que sofreram em função das cargas desnecessárias que lhes impuseram.
O quadro até aqui exposto, nos conduz a adentrar na área dos fatores causadores deste esgotamento ministerial que apesar de possuirem fatores internos ligado à própria família do pastor, também tem a ver com os fatores externos causados pelo ambiente de trabalho.
Portanto, as causas deste cansaço ministerial são:
1. O confronto com os poderes de uma estrutura arcaica. É crescente o número de pastores que pertencem à uma geração de leitura bíblico- teológica contemporânea mas que ministram em igrejas calcificadas e desbotadas pela desatualização. É inevitável o choque, a tensão e consequentemente o cansaço. Pessoalmente, creio que mudanças podem acontecer em estruturas assim, mas o preço para o líder é alto e precisamos estar conscientes de que o desgaste da família pastoral é algo muito provável. Somente na física é que forças opostas se atraem. Na vivência teológica, os atritos decorrentes do gerenciamento de forças (visão de mundo, mentalidade, concepção de vida) opostas é altamente desgastante e cansativo. A consciência deste fato ajuda a discernir e interpretar as nossas reações e nortear as nossas opções de futuro ministerial.
2. A pressão que as pessoas colocam sobre a família pastoral em termos de jogar sobre ela uma responsabilidade do tipo “dois pesos e duas medidas”. O que queremos dizer com isto é que, em vários níveis as pessoas da igreja estabelecem regras para a família pastoral que não estabelecem para si mesmas. É muito provável que alguém julgará com critérios diferentes a ausência do filho do pastor que resolveu ir à uma outra atividade ao invés de estar presente na reunião dos jovens no sábado à noite. O mesmo não aconteceria com qualquer outro jovem da igreja. Nestes anos de ministério, temos observado as pessoas com as posturas mais contraditórias possíveis. Lembro-me de um dia em que eu e minha família não pudemos estar presente no aniversário de uma determinada pessoa que era membro da igreja. A comemoração deste aniversário entrou em choque com uma programação já marcada antecipadamente. Alguém muito próximo a este aniversariante fez severas críticas a mim e à minha família, dizendo que fomos omissos como líderes da igreja. Dois meses depois, este aniversariante seria responsável por liderar uma determinada programação na igreja. No dia, eu e a minha família estávamos presentes e a pessoa que havia feito o comentário, cobrando de nós uma postura em relação àquela pessoa que dizia ser seu grande amigo, desta vez não estava presente para prestigiá-lo, considerando que seria a primeira experiência de seu “amigo” à frente de um trabalho na igreja. Razão: foi passear. Eu e minha esposa comentamos um com o outro o fato e, humanamente falando, pela primeira vez percebemos como isto era desumano.
Eu não tenho dúvidas que alguém possa afirmar que isto seja uma tremenda tolice. Caro leitor, eu queria dizer a você que uma gigantesca somatória de exemplos simples como este perfazem um grande total na vida da família pastoral. Meu filho mais velho, 11 anos, perguntou há poucos dias para mim por que é que as pessoas exigiam de nós algo que eles não exigiam de si mesmos. Ele demonstrou cansaço deste sistema de “fazer religião”. Como a minha família, outras famílias de pastor e pastoras tem dado respostas diferentes a este tipo de estímulo. Uns, inclusive respondem mais radicalmente (filhos envolvidos com drogas, revoltados com crentes, desinteressados da igreja, etc). Sabe, é muito simples dizer que o pastor ou pastora não souberam administrar a sua casa. Esta idéia é, no mínimo, uma tentativa de não assumir a responsabilidade de que a igreja, em alguns casos, é o agente de tensão na família pastoral. Particularmente, não espero dos meus filhos nada além de um comportamento cristão e humano; não os oriento para corresponderem às expectativas das demandas culturais da igreja evangélica, mas para que correspondam ao princípio de estarem convertidos para o Senhor e o compromisso do testemunho cristão. Finalmente, não os sobrecarrego com a minha agenda pastoral.
Uma outra causa refere-se à idéia presente de que pastor não pode ter amigos. Infelizmente, tenho de admitir que há pastores que assim também pensam. Ouvi de uma pessoa que falava em seu estudo sobre as características da igreja evangélica brasileira, que há lideranças de igrejas que fazem questão de mudar os seus pastores freqüentemente na tentativa de impedir que estes criem laços de amizades dentro das comunidades que pastoreiam. Ironicamente, é também intrigante notar que aqueles que no seio da comunidade se levantam para fazerem suas observações sobre as “preferências” do pastor nas amizades pessoais, são exatamente as mesmas pessoas que desejariam estar próximas para manipular esta amizade em algum tipo de benefício pessoal. É algo meio semelhante ao poder de influência que o Paulo César Farias tinha no governo Collor. Guardando as devidas proporções, observamos que este tipo de influência não está reservada apenas ao meio político.
Quando olhamos para a vida de Jesus, o pastor por excelência, observamos que um dos fatos marcantes de seu ministério foram os relacionamentos que Ele construiu sobre o amor e a afetividade. Aliás, a própria doutrina da Trindade caracteriza esta dimensão de relacionamento, testemunhando que as três pessoas, Deu-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito se interagem sob a dimensão da amizade. Jesus chamou aos seus discípulos de amigos. Preferiu esta palavra ao invés da palavra servos por considerar que amigo se tornou palavra-símbolo, sacramento, do novo relacionamento a partir da história da redenção. Como sacramento, a palavra amigo evoca saudades, vontade de rever novamente, compromisso de cuidar. Idéias e sentimentos que a palavra servo jamais evocaria. Não há dúvidas que este modelo precisa ser considerado por pastores, líderes e membros de igrejas. No caso dos pastores, a atitude mais coerente a ser tomada seria considerar de foro íntimo as suas opções no que diz respeito às amizades. Acima de tudo, trata-se de uma questão de privacidade manter os amigos que tem e escolher os que quer. Além disso, é salutar e humano que estes relacionamentos amigos prezem por uma pauta de assuntos e programas para além daqueles próprios da igreja, o que funciona como um exercício de prevenção para este cansaço ministerial. Tenha sua roda de amigos como companheiros do peito, reservando à amizade o prazer de estar numa mesa ou saindo juntos apenas para desfrutar do prazer de estar junto com alguém com quem se simpatiza. Esta tem sido uma prática que tem contribuído para a saúde da alma da nossa própria família.
É óbvio que estas causas acabam por refletir de alguma maneira na vida da família pastoral e o sentimento de solidão é uma das conseqüências. É irônico afirmar que a família que possui o privilégio de se relacionar com o maior número possível de pessoas dentro de uma específica comunidade de fé, também possa viver a realidade de se sentir só. Não diríamos que trata-se apenas de um sentimento de solidão, mas a verdade é que a família do pastor vive também a realidade de estar só. Parte desta realidade decorre da dificuldade que o pastor e sua família tem em compartilhar com as pessoas suas própria pressões.
Do fator solidão se depreende a questão da confiança. Para falar mais claramente, o fato é que há uma crise tremenda de confiança por parte da família pastoral. Mais do que céticos, o pastor, a pastora e sua família acabam por iniciar um processo de isolamento, “santo sarcasmo” e “imaculada ironia” no que diz respeito à confiança nas pessoas. São tantos os golpes, decepções e desencontros que é praticamente impossível não se iniciar um mecanismo de “feedback”(reação, retorno) positivo, ou seja, confiança quebrada alimenta o sistema gerando desconfiança velada. A pergunta que fica é: quem no meio eclesiástico há de cuidar da família pastoral? Não são muitas as opções para quem necessita total segurança em sua confidência. Nesta questão, não se trata apenas do pastor ou da pastora, mas também de sua esposa, seu esposo e filhos. Você já imaginou o desastre que seria se um deles resolvesse abrir a alma escolhendo a pessoa errada?
Deixaríamos uma lacuna neste artigo se não considerássemos, por fim, algumas idéias para lutar contra este cansaço ministerial.

1. É de fundamental importância ter a consciência de que as demandas das pessoas e do seu ambiente de trabalho nada tem a ver com a vocação pastoral. Isso é “mania” de um sistema eclesial doentio e desvirtuado. Particularmente, já não dou mais atenção ao chavão de alguns “conselheiros”, “é meu irmão isso faz parte da vocação”.
2. É preciso constatar a necessidade de uma eclesiologia que trate das responsabilidades da igreja para com os seus líderes. O que se constata é que na relação família pastoral e igreja as responsabilidades tem sido abordadas apenas numa via de mão única. Fala-se muito da responsabilidade do líder para com a igreja e quase nada da responsabilidade da igreja para com o pastor e sua família e a sobrevivência da vocação. Não estamos desconsiderando aqui a crise de integridade pastoral; no entanto, é tempo de alertar que há um outro aspecto da questão, ou seja, o fato de que a família pastoral também precisa ser honrada e cuidada. Sem dúvida alguma, felizes são aqueles pastores, pastoras e respectivas famílias que são muito bem cuidados por algumas igrejas. Mas triste e aflito são os pastores, as pastoras com um coração cheio da graça de Deus e que apesar disso não são honrados pelo “povo de Deus.”
Por fim, há duas atitudes que o pastor e sua família podem tomar.
1. Crie a sua própria privacidade. Cada família deve procurar estabelecer isto de acordo com a sua própria realidade. Evite que a agenda da igreja interfira na liberdade de escolha de sua família.
2. Se você e sua família está em crise, admita a necessidade de um acompanhamento. Procure alguém de confiança com quem você pudesse ser confidente. Ou quem sabe, você pode encontrar um ministério, como a MAPEL, que tem como um dos seus propósitos o de encorajar a família pastoral.
O Pr. Valter Moura é pastor presbiteriano há 15 anos. Ligado à Presbyterian Church in America, trabalha num projeto de plantação de igreja em Danbury, CT, Estados Unidos. É casado com Leides e tem três filhos, Filipe, Bruno e Guilherme).

 fonte:
http://pastorderville.wordpress.com/2007/11/23/o-cansaco-ministerial-da-familia-pastoral/

O pastor cuida do rebanho, mas quem cuida do pastor? - //

O pastor cuida do rebanho, mas quem cuida do pastor? - //

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Tu me amas? (Jo 21.15-19)

EXEGESE DE JOÃO 21.15-19
Em termos de estilo, este diálogo entre o Senhor e seu discípulo desperta interesse, justamente, por causa do uso de sinônimos.  Os termos agapáō e filéō (avgapa,w file,w), significando respectivamente amar, alternam-se com dois sinônimos para designar o cuidado do rebanho, bóske e poímaine (bo,ske e poi,maine), e para o rebanho em si, arnía e bróbata (avrni,abro,bata).  Esta alternância de sinônimos é um dos traços característicos do grego do quarto evangelho.  Dificilmente reflete uma variação comparável de vocábulo na linguagem que Jesus e Pedro provavelmente usaram.  Mesmo assim, há aqueles que vêem uma diferença de sentido entre os dois verbos e, conseqüentemente, na intenção de Jesus, e não concordam entre si sobre a natureza de tal diferença.  Por exemplo:
a)      A versão de Almeida, revista e atualizada, traduz ambos os termos avgapa,w e file,w como “amor”. 
b)      Contudo, a Bíblia Viva[i], em Jo 21.15-17, traduz o termo avgapa,w como “Me ama de verdade?” (avgapa/|j me), enquanto o termo file,w é traduzido como “sabe que sou seu amigo”[1]  (filw/ se) e “você é mesmo meu amigo?” (filw/ me)[2].
c)      Para. Trench[ii], Pedro considera a palavra que seu Senhor usa (avgapa,w) “muito fria” para um momento em que “o coração do apóstolo, agora arrependido, vibra em cada pulsação em afeição apaixonada” por ele.  Ele usa uma palavra (file,w) que transmite melhor o calor desta afeição, e colhe o triunfo quando na terceira ocasião o Senhor acaba também usando esta palavra.
d)     Já Wetscott[iii], por sua vez, considera que avgapa,w, a palavra que o Senhor usa nas duas primeiras perguntas, denota “o amor mais elevado que deve ser a fonte da vida cristã”, enquanto Pedro, por usar file,w, afirma somente o amor natural da afeição pessoal.  Quando, na terceira vez, o Senhor usa file,w, Pedro fica mais sentido porque o Senhor parece questionar até “este amor moderado”.
Quando versões bíblicas e dois eruditos distintos em grego como Trench e Wetscott (ambos, sobretudo, argumentando a partir dos padrões do grego clássico) vêem o significado dos sinônimos de maneiras tão diferentes, surge à pergunta: realmente deve-se, ou não, existir na perícope de Jo 21.15-19 alguma significação especial entre os sinônimos para sua utilização na exegese e na pastoral? 
 
I.                   O TEXTO
1.       Diversas delimitações da perícope sob análise no epílogo de Jo 21:
Delimitação
Edição
Título da Perícope
1-25
Almeida, Revista e Corrigida
Jesus aparece a alguns discípulos junto ao mar de Tiberíades
Trad. da Vulgata pelo Pe. Matos Soares
Pedro recebe o primado
15-19
The Greek New Testament
Jesus and Peter
Tradução Ecumênica da Bíblia
O múnus pastoral de Pedro

Edição Pastoral
Para dirigir a comunidade é preciso amar
15-23
Almeida, Revista e Atualizada
Pedro é interrogado
15-24
Texto Grego da Trinitarian Bible Society
Dokimavzei thn staqerovthta tou Pevtrou
15-25
A Bíblia de Jerusalém
Aparição junto à margem do lago de Tiberíades
Nova Versão Internacional
Jesus restaura a Pedro
2.       Fontes
O epílogo do evangelho de João é exemplo de um material que veio a ser adicionado ao  IV evangelho. 
Quadro Sinótico do Epílogo
21.1-14 Jesus ressuscitado aparece na Galiléia, depois da ressurreição
21.14-23 Jesus ressuscitado fala a Pedro
21.24-25 A (segunda) conclusão
O epílogo é composto como uma série acrescida de aparições na Galiléia, depois da ressurreição.  Difere do corpo principal do material no que diz respeito ao estilo.  O epílogo apresenta outro relato registrado após a conclusão da obra, no fim do capítulo 20.  O capítulo 21 levantou em alguns círculos a hipótese de ter sido acrescentado à obra original. Contudo, não existi qualquer evidência da obra ter circulado sem este capítulo.  O manuscrito mais antigo contendo os evangelhos, o uncial a datando do séc. IV d.C., circulou já apresentando este epílogo.  O texto grego contém 28 palavras que não aparecem em outro lugar do evangelho, as quais são. Para Bruce[iv], esta narrativa tem sua razão de ser no assunto que inicia a narrativa do capítulo (Jo 1.1-14), além do grande número de traços característicos do quarto evangelista no estilo deste capítulo, como, por exemplo, a variação de sinônimos (vv.15-17), o amém repetido (v.18), a construção “Disse isto para significar...” (v.19).  O “nós” de 21.24 pode ter sido utilizado como forma de reconhecer o epílogo como tendo sido originado da autoridade apostólica.
3.       Justificativa da delimitação como Jo 21.15-19
Perícope Anterior:
21.1-14
Mudança de personagens
Dos 07 discípulos presentes em Jo 21.1-14, os vv. 15-17 passam a descrever apenas 01 discípulo, Pedro.
Mudança de conteúdo
No v. 14 ocorre a terceira reaparição de Jesus após sua ressurreição, em meio a narrativa da pescaria (vv. 1-11) e da refeição matinal junto ao mar de Tiberíades (vv. 12-14).

Perícope Posterior:
21.20-23
Mudança de conteúdo
vv. 18-19 iniciam-se com o amém repetido do v.18, e assim, situando-se dentro do contexto de vv..15-17.
Nos vv. 18-19 há o registro acerca da morte de Pedro, a qual haveria de ser para a glória de Deus (confirmação no v. 19):
“estenderás as mãos” (possível referência a algemas).
“e outro te cingirá” (possível idéia de correntes que o prendem para levá-lo ao lugar de execução).
Os vv. 20-23 distinguem-se de vv. 15-19 por apresentarem mudança do número de personagens e de conteúdo.
Entra em cena o discípulo amado
 
4.       Conteúdo
 
O conteúdo do texto de Jo 21.15-19 descreve o novo chamado de Pedro e as suas conseqüências.  Tomando-se como base o v. 20, após a refeição matinal, Jesus e Pedro saem para uma caminhada pela praia, a fim de terem uma conversa a sós.
 
Tomada isoladamente, a pergunta “amas-me mais do que estes outros?” (avgapa/|j me ple,on tou,twnÈ) é ambígua, podendo significar duas possibilidades:   a) “Você ama mais a mim do que a estas pessoas?” (em relação aos seus companheiros discípulos)
b) “Você ama mais a mim do que a estas coisas?” (o que poderia ser uma referência à atividade pesqueira).
 
Mesmo no contexto de “Você me ama mais do que estes outros me amam?”, naturalmente Pedro não teria como saber; mas não muito tempo atrás ele havia pensado que amava Jesus mais do que eles.    Não importa o que os outros fizessem, Pedro tinha dito no cenáculo: “Por ti darei a própria vida” (Jo 13.37). 
  Contudo, por mais disposto que o espírito estivesse, a carne foi fraca, como Pedro provou no pátio do palácio do sumo sacerdote. 
  É possível que a razão de Pedro ressentir-se com o fato de Jesus lhe perguntar três vezes se o amaria, pode dever-se à sua lembrança como, durante a noite da prisão de Jesus, em três ocasiões, negara ter qualquer conhecimento dele. 
  Agora em resposta a pergunta de Jesus, Pedro reafirma seu amor, mas se recusa a fazer qualquer comparação com os outros.
 
II.               PERÍCOPE SOB ANÁLISE: Jo 21.15-19
15  {Ote ou=n hvri,sthsan le,gei tw/| Si,mwni Pe,trw| o` VIhsou/j( Si,mwn VIwa,nnou( avgapa/|j me ple,on tou,twnÈ le,gei auvtw/|( Nai. ku,rie( su. oi=daj o[ti filw/ seÅ le,gei auvtw/|( Bo,ske ta. avrni,a mou. 15 Assim que comeram o desejum, Jesus fala a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que a estes/isto? Diz-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Cuide dos meus cordeiros.
16 le,gei auvtw/| pa,lin deu,teron( Si,mwn VIwa,nnou( avgapa/|j meÈ le,gei auvtw/|( Nai. ku,rie( su. oi=daj o[ti filw/ seÅ le,gei auvtw/|( Poi,maine ta. pro,bata, mou. 16 Diz-lhe novamente, segunda vez: Simão, filho de João, amas-me?  Diz-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo.  Apascenta as minhas ovelhinhas.
17 le,gei auvtw/| to. tri,ton( Si,mwn VIwa,nnou( filei/j meÈ evluph,qh o` Pe,troj o[ti ei=pen auvtw/| to. tri,ton( Filei/j meÈ kai. le,gei auvtw/|( Ku,rie( pa,nta su. oi=daj( su. ginw,skeij o[ti filw/ seÅ le,gei auvtw/| Îo` VIhsou/jÐ( Bo,ske ta. pro,bata, mouÅ 17 Diz-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me?  Pedro entristeceu-se porque lhe disse pela terceira vez “amas-me?”, e diz-lhe: Senhor, tu sabes tudo, sabes que te amo.  Jesus diz-lhe: Cuide das minhas ovelhinhas.
18 avmh.n avmh.n le,gw soi( o[te h=j new,teroj( evzw,nnuej seauto.n kai. periepa,teij o[pou h;qelej\ o[tan de. ghra,sh|j( evktenei/j ta.j cei/ra,j sou( kai. a;lloj se zw,sei kai. oi;sei o[pou ouv qe,leijÅ 18 Verdadeiramente, verdadeiramente te digo: Quando você era jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos, e outro o vestirá e o levará aonde você não quer ir.
19 tou/to de. ei=pen shmai,nwn poi,w| qana,tw| doxa,sei to.n qeo,nÅ kai. tou/to eivpw.n le,gei auvtw/|( VAkolou,qei moiÅ 19 Jesus disse isto para dizer de que tipo de morte ele morreria para glorificar a Deus.  Depois disse: Siga-Me
 
Subdivisão da perícope de Jo 21.15-19
A fim de se encontrar o centro da narrativa, a perícope será  subdividida, limitando-se a análise ao texto de Jo 21.15-17:  Depois de terem comido...
1ª Parte:
v.15

Jesus

Pedro
Vocábulos

Jesus perguntou a Simão Pedro

Pedro respondeu

Amas-me?
Tu sabes que te amo
avgapa/|j me
filw/ se
Apascenta os meus cordeiros

Bo,ske ta. avrni,a mou

2ª Parte: v.16

Jesus

Pedro
Vocábulos

tornou a perguntar-lhe



Amas-me?
Tu sabes que te amo
avgapa/|j me
filw/ se

Apascenta as minhas ovelhas


Poi,maine ta. pro,bata, mou

3ª Parte: v.17

Jesus: Tornou a perguntar-lhe pela terceira vez

Pedro
Vocábulos
Amas-me?
Tu sabes tudo, tu sabes que te amo
filei/j me
filw/ se
Apascenta as minhas ovelhas.

Bo,ske ta. pro,bata, mou

III.             CONTEXTO
1.      Atividade redacional na composição da perícope de Jo 21.15-17
Ocorre uma ligação por referência ao evento anterior:
v. 15, Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: ...
2.      Conteúdo teológico
Há traços característicos do corpo principal da obra, como por exemplo:
A variação de sinônimos (vv. 15-17), o amém repetido (v. 18) e a construção “Disse isso para significar” (v. 19).
3.      Contexto literário para a definição de propósitos redacionais
3.1    Contexto menor
A perícope está em continuidade temática direta com o texto anterior e posterior imediato:
v. 12-14 (a refeição matinal a beira do lago)
v. 15-17 (Jesus e Pedro)  + v. 18-19 (o preço a ser pago por Pedro)
v 20-25 (o discípulo amado e a 2ª conclusão
3.2    Contexto maior
Texto anterior ao epílogo
Paixão e triunfo:
-        Narrativa da paixão (18.1-19.42)
-        Narrativa da ressurreição (20.1-29)
O propósito do relato (20.31,31): produzir e fazer a fé de seus leitores na pessoa de Jesus Cristo como o Messias e o Filho de Deus.
O Epílogo
Práxis eclesiológica (6-19) e a espera da parousia (22).
v. 1-11 (pescaria)
v. 12-19 (contexto menor)
v. 20-23 (o discípulo amado)
v 24 (o 1º pós-escrito)
v.25 (o 2º pós-escrito)
Objetivo da Perícope
Reafirmar Pedro em sua missão.

IV.             PRÉ-TEXTO
1.       Classificação do gênero
É uma narrativa acerca da ressurreição, enfocada sob o gênero dramático.
2.       Objetivo do narrador do epílogo
O epílogo do quarto evangelho forma uma segunda conclusão, sendo uma adição feita por autor posterior sobre o texto concernente ao cap. 20.
O cap. 21 afirma que “este é o discípulo que dá testemunho a respeito destas cousas, e que as escreveu”; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”.
É possivelmente uma tentativa para fazer este evangelho repousar em alicerces apostólicos, e também para afirmar a veracidade do testemunho do apóstolo João.
3.       Os ouvintes
O epílogo concede ao discípulo que Jesus amava importante lugar.
Dessa forma, abre perspectivas sobre a vida da comunidade joanina, ajudando a situá-la possivelmente em relação às igrejas que se ligam a Pedro.
4.       A atmosfera determinante na situação
Na narrativa da perícope dos vv. 15-17, Pedro reafirma seu amor pelo Senhor e é reabilitado para uma nova convocação.
A missão que ele recebe é pastoral.
O Pastor de Jo 10 delega sua responsabilidade a pastores subalternos, dos quais Pedro é o primeiro a ser convocado.
5.       Reação intencionada:

função
referencial
Os atos lingüísticos são direcionados objetivando afirmar ou assegurar o ministério de Simão Pedro à frente da missão.  A posição proeminente de Pedro na Igreja, em larga escala, foi fortemente influenciada pela lembrança em vários círculos do NT de que fora o primeiro entre os Doze a ver Jesus ressuscitado (I Co 15.5; Lc 24.34).  Em Jo 20.8, entretanto, quando Simão Pedro e o Discípulo Amado correram e viram o sepulcro vazio, o Discípulo Amado (sozinho) crê sem ver Jesus ressuscitado.  Assim, enquanto tradicionalmente Pedro pode ter sido o primeiro apóstolo a ver Jesus ressuscitado, a tradição joanina conhece um Discípulo que foi ainda mais abençoado porque creu sem ter tido tal visão.  E, mesmo quanto esses dois homens juntos vêem Jesus ressuscitado, Simão Pedro só reconhece o Senhor depois que o Discípulo diz a Pedro que é o Senhor (Jo 21.7).  Enquanto pessoa real, o Discípulo Amado, funciona no Evangelho como a encarnação do idealismo joanino, com todos os cristãos sendo discípulos e, entre eles, a grandeza é determinada pela relação de amor com Jesus e não pela função ou ofício.
A Pedro é atribuído o papel de conduzir o rebanho, papel que supõe autoridade, que no último terço do séc. I era exercido pelos bispos e presbíteros em outras igrejas do NT, e que provinha de apóstolos como Pedro e Paulo (I Pd 5.1-2; At 20.28; I Clem 42.4; 44.1-3).  Antes que esse papel fosse dado a Pedro em Jo 21.15-17, Jesus lhe perguntou por três vezes: “Tu me amas?”.  Se a autoridade é concedida, precisa estar fundamentada no amor de/em Jesus.  Além disso, Jesus continua a falar de “meus cordeiros, minhas ovelhas”.  O rebanho não pertence a Pedro nem a nenhum agente da Igreja humana; cordeiros e ovelhas continuam a pertencer àquele que disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem” (10.14).  E, se a Pedro é dada a tarefa de pastor, ele deve preencher os requisitos joaninos para o pastoreio, a saber, que “o bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (10.11).  Assim, após dizer a Pedro três vezes que alimente/conduza o rebanho, em 21.18-19 lhe fala sobre a maneira como será levado à morte.  Essa morte será a prova de que, no papel de Pedro como pastor, foi dada prioridade ao amor ao discipulado: “Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros.. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (13.35; 15.13).
6.       Gênero narrativo
História da ressurreição.
Interesse primário de auxiliar na defesa, diante dos judeus e gentios, o escândalo que representara a mensagem de um Senhor crucificado, demonstrando que através desse “absurdo” Deus estava agindo para salvar a humanidade.

V.                ANÁLISE SEMÂNTICA
1.      AGRUPAMENTO DE LEXEMAS
Em Jo 21.15-17, quando o Senhor ressuscitado interroga a Pedro quanto ao seu amor, o texto original emprega duas palavras: avgapa,w e file,w.  Uma argumentação quanto a uma distinção entre estes dois verbos pode levar a equívocos, enfatizando falsos significados especiais.  A seguir a análise de Trench:
"O termo avgapa,w expressa um afeto incondicional, resultante do fato de se ver no objeto desse afeto, independentemente de seus méritos, algo que é digno de consideração.  Está baseado na admiração e respeito, e é o amor controlado pela vontade e é de caráter permanente.  O termo  file,w está baseado na afeição, sendo o amor mais impulsivo e mais pronto a perder o seu fervor.  Preocupa-se mais consigo mesmo, sendo mais instintivo; procedendo dos sentimentos e afeições naturais; implicando mais na existência da paixão.  Então, quando o Senhor por duas vezes fez a pergunta a Pedro ‘amas-me?’ usou o verbo avgapa,w.   Pedro não ousou responder afirmativamente,(...). Assim, na resposta, Pedro empregou o verbo file,w. (...) Porém, na terceira pergunta usa a segunda palavra, como se duvidasse até mesmo deste amor (file,w) de Pedro.  Não é de admirar que Pedro ficasse triste e apelasse para a onisciência do Senhor."[v]
1.1.  Análise sincrônica
O termo avgapa,w nem sempre se refere a um amor sacrificial ou divino, e não há nada na raiz que transmita tal significado.  Mas o problema surge quando a troca de dois verbos diferentes na perícope de Jo 21.15-17 pode sugerir uma distinção no significado ou uma sobreposição semântica de sinonímia devido a repetitividade.  Tendo-se como base essa alternância de sinônimos, há os que afirmam acerca de uma distinção a ser reconhecida no uso que a perícope faz dos dois verbos, isto é,  que os escritores do NT investiram avgapa,w (eu amo) e avga,ph (amor) de um significado especial, apresentando uma forma adequada para falar sobre o amor de Deus.  Contudo, o texto do NT não propõe uma significação especial para estes sinônimos.  Por exemplo:
1
Quando Demas abandonou a Paulo porque amava o presente mundo maligno:
Em 2 Tm 4.10 o verbo utilizado é avgapa,w.

2
O evangelho de João ao referir-se às relações entre o Pai e o Filho registra: Em Jo 3.35, onde se lê que o Pai ama ao Filho, cujo registro ocorre com o uso do verbo avgapa,w.
Contudo, em Jo 5.20 essa idéia é repetida, mas agora, utilizando-se o verbo file,w, sem nenhuma mudança perceptível no significado.
Para ser determinado o sentido geral ou especial de um sinônimo, deve-se analisar o contexto em que a palavra é usada, os atributos com ela relacionados, e seus adjuntos devem determinar se uma palavra está sendo empregada em sentido geral ou especial.  Desta forma pode-se chegar às seguintes conclusões:
Os sinônimos podem apresentar um significado geral ou especial [vi]
Não deve ser seguido o princípio de que, quando sinônimos são empregados, deve-se sempre enfatizar o sentido especial, pois do contrário poderá resultar em várias espécies de interpretações fantásticas.
Se duas ou mais palavras ou expressões sinônimas são usadas na mesma passagem, é recomendável admitir-se sua significação como sendo geral, e que a sua significação especial requeira atenção dobrada.
 1.2.  Análise Diacrônica
a)      Hendriksen[vii] constrói seus argumentos acerca de uma real distinção entre avgapa,w e file,w, em João 21.15-17: ele mostra que, embora haja uma considerável intersecção semântica entre avgapa,w e file,w, uma vez consideradas todas as passagens bíblicas em que essas duas palavras ocorrem, há evidências de uma pequena “projeção” semântica em cada caso, como, por exemplo:
-         file,w ao ser usado quando Judas beija Jesus (Lc 22.47);
-         avgapa,w nunca usado em tal contexto. 
Com esse tipo de argumento Hendriksen conclui que avgapa,w e file,w não são sinônimos de significação geral e, portanto, mantêm impulsos semânticos ligeiramente diversos em Jo 21.15-17.
b)      Segundo Carson, o argumento de Hendriksen não se sustém pelo fato de que ele faz uso inadequado das complexas questões relativas à sinonímia sem dar grande ênfase à gênese do uso de avgapa,w na literatura helenística a partir do século IV a.C.[viii]  Ainda, segundo Carson, a essência do raciocínio de Hendriksen é o seguinte:  o campo semântico geral de cada palavra é ligeiramente diverso do de outra, assim, há uma diferença semântica nessas circunstâncias.  Contudo, decidindo-se a partir do seu contexto, questões específicas de sinonímia com base no campo semântico geral de cada palavra, qualquer sinonímia em qualquer situação será virtualmente impossível.  A abordagem de Hendriksen exclui ilegitimamente a questão.[ix]
c)      Para Carson,[x] o termo avgapa,w nem sempre se refere a um amor sacrificial ou divino, e não há nada na raiz que transmita tal significado.  Mas o problema surge quando a troca de dois verbos diferentes na perícope de Jo 21.15-17 pode sugerir uma distinção no significado.  Com base na utilização realizada pelos tradutores da LXX, alguns argumentam a existência de uma distinção de significado especial entre os sinônimos avgapa,w e file,w, com o termo avgapa,w, em pleno sécs. III-II a.C.[xi] adquirindo importância na literatura bíblica judaica.  Contudo, uma breve observação na versão grega da LXX permite detectar o inverso:
Em Gênesis 37.3, o amor preferencial de Jacó por José é expresso por αγαπάω, mas no versículo seguinte, por file,w.
Em 2 Samuel 13, tanto αγαπάω quanto o substantivo derivado avga,ph (amor) ao referir-se ao estupro incestuoso praticado por Amnom contra sua meia-irmã Tamar (2Sm 13.15, LXX).
d)     Através do estudo diacrônico de Joly[xii], chegou-se a conclusão que o termo avgapa,w estava ganhando relevância em toda a literatura grega a partir do século IV a.C. e não apenas na literatura bíblica.  Este desenvolvimento foi favorecido por certas mudança na língua (que os lingüistas chama de mudanças estruturais), sendo que avgapa,w estava se tornando um dos verbos-padrão aplicáveis a “amar”, porque o significado beijar viera a ser incluído dentro dos limites da esfera semântica de file,w.  A evidência é significativa, desqualificando a argumentação de uma utilização especial dos sinônimos avgapa,w e file,w na tradução da LXX.
1.3.  Paralelismo sinonímico
A perícope sob análise apresenta um paralelismo sinonímico acerca de quatro termos:
1. O “amor”
2. O cuidado do rebanho
3. O rebanho em si
4. O “saber” de Jesus
avgapa/|j
filw/
Bo,ske 
Poi,maine
avrni,a
pro,bata,
oi=daj
ginw,skeij
Tendo-se por base o estudo dos sinônimos avgapa,w e file,w, os lingüistas entendem que é possível considerar a possibilidade de princípios comuns à interpretação dos demais sinônimos do texto de Jo 21.15-17.  Isto é, entendem que o significado de sinônimos no grego, como os termos avgapa,w e file,w, não pode ser determinado com segurança exclusivamente pela etimologia, a qual projeta certa semântica.  Assumem que a pastoral deve atentar para o fato de que, em termos lingüísticos, o significado não é uma propriedade intrínseca a uma palavra, antes, “é um conjunto de relações para as quais um símbolo verbal é um signo”.[xiii] Em certo sentido, a pastoral pode se trair, sugerindo que “esta palavra significa isto ou aquilo”, expressando a variação de significado observado em contextos particulares.  Dessa forma, as reflexões na pastoral não podem sobrecarregar suas declarações com demasiada bagagem etimológica, pois nem sempre a etimologia está relacionada ao significado presente em seus componentes (raiz, sufixos, prefixos), pois para uma compreensão satisfatória da mensagem, faz-se necessário o estudo sincrônico e, principalmente, diacrônico, por meio do qual ocorre o estudo das palavras através de longos períodos de tempo. Como exemplo, há a questão dos sinônimos na perícope de Jo 21.15-19, através da qual, apesar da existência de sinônimos aparentemente utilizados com significados diversos, na realidade não apresentam quaisquer diferenças. 
Todavia, é necessário argumentar que esta interpretação acima pertence aos lingüistas especializados em grego clássico. Este autor considera que, conforme os exemplos de A Bíblia Viva, Trench e Wetscott, citados na introdução desta exegese, não ocorrem inadequadas interpretações relativas à sinonímia da perícope acima.  Concordamos que, para a realização de uma pastoral sem manipulações do texto (grego koiné), e ao mesmo tempo “interessante”, faz-se necessário a presença de material comparativo, proveniente do grego clássico, pois uma pastoral que especifique o significado de uma palavra, apenas baseando-se na etimologia, corre o risco de ser nada mais do que uma adivinhação sistematizada. Contudo, um estudioso da Teologia deve também considerar as transformações históricas que acompanharam determinados termos. Assim, tendo-se como base os sinônimos que denotam "amar" em Jo 21, convém lembrar que o idioma grego durante a patrística continuou sofrendo uma evolução pelos Pais da Igreja, os quais, em seus escritos, enfatizaram a diferença entre avgapa,w e file,w: o primeiro sedo usado para enfatizar em seus escritos o "amor incondicional" de Deus pela raça humana, e o segundo para enfatizar o "amor fraternal" desenvolvido entre os membros da raça humana. Este amor fraternal, devido ao pecado original, dificilmente é incondicional, mas geralmente condicional, devido sua prática por criaturas pecaminosas. Além disso, os primeiros Pais da Igreja escreviam em grego, o idioma internacional de seu tempo (apesar de o latim ser a língua oficial do império romano). Eram, não só cultos, como também, discípulos dos apóstolos, ou discípulos das tradições desenvolvidas pelas comunidades fundadas por esses apóstolos. Assim, considerar uma diferença hermenêutica entre esses sinônimos é manter-se na tradição dos Pais Apostólicos, pois estes viviam sob uma atmosfera do grego koiné, ao invés do grego clássico.
1.4.  Estruturas concêntricas[14]
Depois de terem comido, ...
v.15: O primeiro “Sim” de Pedro:
     a. perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João,
         b. amas-me mais do que estes outros?
              x. Ele respondeu: sim, Senhor,                                                                    
        b’. tu sabes que te amo.
     a'. Ele lhe disse, apascenta os meus cordeiros.

v. 16: O segundo “Sim” de Pedro:
     a. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João,
          b. tu me amas?
               x. Ele lhe respondeu: Sim, Senhor                                                               
         b’. tu sabes que te amo.
     a'. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas.

v. 17: O testemunho de Pedro:
     a. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João,
          b. Tu me amas?
               x. Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas,
          b’. tu sabes que eu te amo.
     a'. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.

1.3.1        Centro Agregador (x)
O centro agregador é representado pela expressão: “Ele lhe respondeu: Sim Senhor”
Não envolve diretamente o “novo chamado realizado por Jesus”,
Tem como base o “Sim” de Pedro.
O foco da narrativa concentra-se na resposta de Pedro, a qual é tomada como base para o restabelecer em sua missão.

VI.             HERMENÊUTICA
Qual o tema central da perícope de Jo 21.15-19?  O cerne da exortação está na reafirmação do amor de Pedro pelo Senhor, o qual seria evidenciado em sua obediência; isto o leva à sua reabilitação e reconvocação, apesar das falhas já ocorridas.  A missão que Pedro recebe é pastoral: Quando foi chamado pela primeira vez da sua ocupação de pescador para ser seguidor de Jesus, foi-lhe dito que dali em diante ele pescaria pessoas (Lc 5.10; v.t. Mc 1.17).  Agora, ao anzol do pescador é acrescentado o cajado do pastor.  A seriedade com que ele encarou esta segunda missão pode ser vista em I Pedro 5.1-4 onde, falando perto do fim da sua vida como pastor para outros pastores, ele os exorta a pastorear o rebanho de Deus com fidelidade, para receberem um prêmio duradouro de glória quando o supremo pastor se manifestar. 
O texto continua a apelar aos leitores a assumirem a mesma resposta de Pedro, aquele que três dias antes havia negado o Senhor por três vezes, ouvindo e obedecendo ao Senhor, independentemente de suas falhas e pecados anteriores. Assim, a mensagem principal da perícope é pastoral, reafirmando o amor de Pedro pelo Senhor, e dessa forma, apela para que os leitores (ou ouvintes) assumam a mesma disposição de Pedro diante do Senhor.  E para que esse apelo seja entendido, não se faz necessário qualquer manipulação dos sinônimos presentes no texto por meio de interpretações semânticas fantasiosas, pois a mensagem central por si só, já é capaz de alcançar o entendimento dos leitores.  O sentido teológico resulta da relação do texto com os dados reais que determinam a direção do pensamento expresso pelo texto: não enfatiza algum tipo de “amor” condicional e superficial, a ser questionado, mas sim, a reafirmação, reabilitação e reconvocação por parte de Deus aos Seus discípulos, inclusive ao que O tenha ofendido com algum pecado, o qual, segundo os parâmetros humanos, não deveria ter mais perdão.  Mesmo assim, este pecador é acolhido por Deus para atuar em Seu Reino.
 

[1] Pedro respondendo.
[2] Jesus perguntando na terceira vez.
[3] A palavra seguinte no texto é substituída por uma ou mais palavras pelas testemunhas citadas.
[4] Bo,ske: “alimentar”, retrata o dever de um mestre cristão de promover por todos os meios o bem estar espiritual dos membros da igreja.
[5] avrni,a: “cordeirinho”, diminutivo de arnoj (cordeiro).
[6] Distingue entre múltiplas ocorrências do mesmo tipo de variante dentro de uma única unidade do aparato.
[7] Substituição (maior): as palavras contidas entre estes sinais são substituídas por outra num ou mais mss
[8] Poi,maine - v: apascentar, cuidar do rebanho, tomar conta das ovelhas: “... apascenta as ...”
[9] subst. acus. neut. plu.: “ovelhinhas”.
[10] Marca uma mudança no texto da 25ª edição, onde a leitura marcada permanece no texto.  São passagens  que sempre representam grande dificuldade nas decisões textuais. 
[11] A palavra seguinte no texto é substituída por uma ou mais palavras pelas testemunhas citadas.
[12] Substituição (simples): a palavra que segue é substituída por outra num ou mais mss.  A variante em questão era admitida como texto original em edições anteriores de Nestlé-Aland.
[13] Marca uma mudança no texto da 25ª edição, onde a leitura marcada permanece no texto.  São passagens  que sempre representam grande dificuldade nas decisões textuais. 
[14] estrutura cujos elementos estão eqüidistantes do centro agregador do texto.

 

[i] A Bíblia Viva. 8.ed.  São Paulo: Mundo Cristão, 1995.
[ii] BRUCE, F. F.  João.  São Paulo: Vida Nova. 1984. p. 345.
[iii] Ibiden, p.346.
[iv] BRUCE, F. F. The gospel of John: introduction, exposition and notes. London: Pickering and Inglis.  1983. p. 327.
[v] BERKHOF, L. Princípios de interpretação bíblica. 5.ed. Rio de Janeiro: JUERP. 1994. p.77.
[vi] Ibiden, p. 78.
[vii] CARSON, D. A. A exegese e suas falácias: perigos na interpretação da Bíblia.  São Paulo: Vida Nova, 1984. p.49.
[viii] Ibiben, p.50.
[ix] Id.
[x] Id. p.49.
[xi] Id.
[xii] Id.
[xiii] Id, p. 30.
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Fonte - carlosalberto.net@live.com

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

EXEGESE BÍBLICA



Exegese
Todo pregador do evangelho deve, por obrigação, dominar as técnicas básicas da exegese, sob pena de trair o real sentido do texto sagrado a ser explanado e de ser um disseminado de heresias, portanto se você ainda não domina a arte de interpretar e compreender os textos, deve então começar agora, pelo básico.

O que é e do que trata a Exegese:
É a disciplina que aplica métodos e técnicas que ajudam na compreensão do texto.
Do ponto de vista etimológico hermenêutica e exegese são sinônimos, mas hoje os especialistas costumam fazer a seguinte diferença: Hermenêutica é a ciência das normas que permitem descobrir e explicar o verdadeiro sentido do texto, enquanto a exegese é a arte de aplicar essas normas.

Princípios Básicos:
Aqui se encontram dez princípios que devem ser seguidos na interpretação bíblica:
    • 1° - denomina-se princípio da unidade escriturística. Sob a inspiração divina a Bíblia ensina apenas uma teologia. Não pode haver diferença doutrinária entre um livro e outro da Bíblia.
    • 2° - Deixe a Bíblia interpretar a própria Bíblia. Este princípio vem da Reforma Protestante.
      O sentido mais claro e mais fácil de uma passagem explica outra com sentido mais difícil e mais obscuro. Este princípio é uma ilação do anterior.
    • 3° - Jamais esquecer a Regra Áurea da Interpretação, chamada por Orígenes de Analogia da Fé. O texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de textos isolados.
    • 4° - Sempre ter em vista o contexto. Ler o que está antes e o que vem depois para concluir aquilo que o autor tinha em mente.
    • 5° - Primeiro procura-se o sentido literal, a menos que as evidências demonstrem que este é figurado.
    • 6° - Ler o texto em todas as traduções possíveis - antigas e modernas.
      Muitas vezes uma destas traduções nos traz luz sobre o que o autor queria dizer.
    • 7° - Apenas um sentido deve ser procurado em cada texto.
    • 8° - O trabalho de interpretação é científico, por isso deve ser feito com isenção de ânimo e desprendido de qualquer preconceito. (o que poderíamos chamar de "achismos").
    • 9° - Fazer algumas perguntas relacionadas com a passagem para chegar a conclusões circunstanciais. Por exemplo:
        1. a) - Quem escreveu?
          b) - Qual o tempo e o lugar em que escreveu?
          c) - Por que escreveu?
          d) - A quem se dirigia o escritor?
          e) - O que o autor queria dizer?
    • 10° - Feita a exegese, se o resultado obtido contrariar os princípios fundamentais da Bíblia, ele deve ser colocado de lado e o trabalho exegético recomeçado novamente.

As Ferramentas necessárias ao exegeta:
  1. Usar a Bíblia que contiver o texto mais fidedigno na língua original.
    (Os que não podem ler a Bíblia no original devem usar uma tradução fiel, tanto quanto possível).
    Escolhido o texto é necessário saber exatamente o que ele diz. Para isso são necessárias suas espécies de ferramentas:
    1. a) - Dicionários.
        1. Para o Velho Testamento o melhor em inglês é: Um Conciso Léxico Hebraico e Aramaico do Velho Testamento de William Holaday.
          Para o Novo Testamento o melhor é: Léxico Grego-Inglês do Velho Testamento de Walter Bauer (Universidade de Chigago), traduzido e adaptado para o inglês por Arndt Gingricd.
          Em português não há nem um dicionário para o grego bíblico. Para o grego clássico o melhor que temos é: Dicionário Grego-Português e Português-Grego de Isidro Pereira, Edição do Porto, Portugal.
    1. b) - Gramáticas.
        1. A melhor do hebraico é a de Gesenius.
          Para o Novo Testamento as melhores gramáticas são as de Blass,. Moulton e Robertson.
          Depois de determinado o que o texto registra, é preciso ir além e investigar mais precisamente a significação teológica de certas palavras.
          A melhor fonte para este estudo no grego é o Dicionário Teológico do Novo Testamento, editado por Kittel e Friedrich. São dez alentados volumes para o inglês.
          Para o Velho testamento não existe trabalho idêntico.
          Em português continuamos numa pobreza mais do que franciscana neste aspecto.
          O próximo passo é uma pesquisa conscienciosa do contexto para que não haja afirmações que se oponham ao que o autor queria dizer ou distorções daquilo que ele disse.
          Após esta pesquisa é necessário considerar cuidadosamente a teologia, o estilo, o propósito e o objetivo do autor. Para este mister as obras mais necessárias são: concordância, introduções e livros teológicos.
          Em português temos a Concordância Bíblica, publicação da Sociedade Bíblica do Brasil, 1975.
          Muito úteis para o exegeta são os estudos teológicos que tratam com o livro específico do qual estamos fazendo a exegese.
          O próximo passo em exegese é a familiarização com o conhecimento geográfico, histórico, os hábitos e práticas podem iluminar nossa compreensão sobre o texto.
          Para tal propósito são necessários Atlas, livros arqueológicos, histórias e dicionários bíblicos.
          Dicionários da Bíblia são muito úteis para rápidas informações sobre um assunto, identificação de nomes de pessoas, lugares ou coisas. O melhor dicionário da Bíblia é: The Interpreter´s Dictionary of the Bible, quatro volumes.
COMO FAZER EXEGESE
Introdução: Na atualidade a mídia, especialmente a TV e o rádio, tem sido usada como um instrumento para espalhar a palavra de Deus, mas ao mesmo tempo tem provocado na mente de muitos cristãos a "lerdeza do pensar". Hoje existe o "evangelho solúvel", "evangelho do shopping center", "dos iluminados", etc. Mas pouco se estuda a fonte do evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta página tem o objetivo de estimular e incentivar ao estudo das Sagradas Escrituras, isto é muito mais do que uma leitura diária e muitas vezes feita as pressas para cumprir um ritual. Neste artigo extraído temos a arte que nos leva a conhecermos, entendermos vivermos uma vida com abundância e que foi prometida por Jesus.
Definição de exegese: guiar para fora dos pensamentos que o escritor tinha quando escreveu um dado documento, isto é, literalmente significa "tirar de dentro para fora", interpretar.

CINCO REGRAS CONCISAS
    • 1. interpretar lexicamente. É conhecer a etimologia das palavras, o desenvolvimento histórico de seu significado e o seu uso no documento sob consideração. Esta informação pode ser conseguida com a ajuda de bons dicionários. No uso dos dicionários, deve notar-se cuidadosamente o significar-se da palavra sob consideração nos diferentes períodos da língua grega e nos diferentes autores do período.
    • 2. interpretar sintaticamente: o interprete deve conhecer os princípios gramaticais da língua na qual o documento está escrito, para primeiro, ser interpretado como foi escrito. A função das gramáticas não é determinar as leis da língua, mas expo-las. o que significa, que primeiro a linguagem se desenvolveu como um meio de expressar os pensamentos da humanidade e depois os gramáticos escreveram para expor as leis e princípios da língua com sua função de exprimir idéias.

    • Para quem deseja aprofundar-se é preciso estudar a sintaxe da gramática grega, dando principal relevo aos casos gregos e ao sistema verbal a fim de poder entender a estruturação da língua grega. Isto vale para o hebraico do Antigo Testamento.

    • 3. interpretar contextualmente. Deve ser mantido em mente a inclinação do pensamento de todo o documento. Então pode notar-se a "cor do pensamento", que cerca a passagem que está sendo estudada. A divisão em versículos e capítulos facilita a procura e a leitura, mas não deve ser utilizada como guia para delimitação do pensamento do autor.. Muito mal tem sido feita esta forma de divisão a uma honesta interpretação da Bíblia, pois dá a impressão de que cada versículo é uma entidade de pensamento separados dos versículos anteriores e posteriores.
    • 4. interpretar historicamente: o interprete deve descobrir as circunstâncias para um determinado escrito vir à existência. É necessário conhecer as maneiras, costumes, e psicologia do povo no meio do qual o escrito é produzido. A psicologia de uma pessoa incluí suas idéias de cronologia, seus métodos de registrar a história, seus usos de figura de linguagem e os tipos de literatura que usa para expressar seus pensamentos.
    • 5. interpretar de acordo com a analogia da Escritura. A Bíblia é sua própria intérprete. diz o princípio hermenêutico. A bíblia deve ser usada como recurso para entender ela mesma. Uma interpretação bizarra que entra em choque com o ensino total da Bíblia está praticamente certa de estar no erro. Um conhecimento acurado do ponto de vista bíblico é a melhor ajuda.

O PROCEDIMENTO EXEGÉTICA
    • 1. o procedimento errado. Ler o que muitos comentários dizem com sendo o significado da passagem e então aceitar a interpretação que mais agradece. Este procedimento é errado pelas seguintes razões:
      a) encoraja o intérprete a procurar interpretação que favorece a sua pre-concepção e
      b) forma o hábito de simplesmente tentar lembrar-se das interpretações oferecidas. Isto para o iniciante, freqüentemente resulta em confusão e ressentimento mental a respeito de toda a tarefa da exegese. Isto não é exegese, é outra forma de decoreba e é muito desinteressante. O péssimo resultado e mais sério do "procedimento errado" na exegese é que próprio interprete não pensa por si mesmo.

    2. PROCEDIMENTO CORRETO

      • 2.1. o interprete deve perguntar primeiro o que o autor diz e depois o que significa a declaração 2.2 consultar os dicionários para encontrar o significado das palavras desconhecidas ou que não são familiares. É preciso tomar muito cuidado para não escolher o significado que convêm ao interprete apenas.
        2.3. depois de usar bons dicionários, uma ou mais gramáticas devem ser consultadas para entender a construção gramatical. No verbo, a voz, o modo e o tempo devem ser observado por causa da contribuição à idéia total. O mesmo cuidado deve ser tomado com as outras classes gramaticais.
        2.4. Tendo as análises léxicas, morfológica e sintática sido feitas, é preciso partir para análises de contexto e história a fim de que se tenha uma boa compreensão do texto e de seu significado primeiro e, 2.5. Com os passos anteriores bem dados, o interprete tem condições de extrair a teologia do texto, bem como sua aplicação às necessidade pessoais dele, em primeiro lugar, e às dos ouvintes. Que o texto tem com a minha vida? Com os grandes desafios atuais?

    O USO DE INSTRUMENTOS

      • 1. Comentários: eles não são um fim em si mesmo. O interprete deve manter em mente o clima teológico em que foram produzidos, porque isso afeta de maneira direta a interpretação das Escrituras. Um comentarista pode ser capaz, em certa media, de evitar " bias" (tendências) e permitir que o documento fale por si mesmo, mas sua ênfase nos vários pensamentos na passagem será afetada pela corrente de pensamento de seus dias. Os comentários principalmente os devocionais, tem a marca da desatualização.


      • Prefira os comentários críticos e exegéticos.


      • 2. Uso de dicionário e gramáticas: e importante manter em mente a data da publicação. Todas as traduções de uma palavra devem ser avaliadas e não apenas tirar só o significado que interessa a nossa interpretação. Explore o recurso dos próprios sinônimos. Por exemplo a palavra pobre é tradução de duas palavras gregas. [penef e ptohoi- transliterado por Jotaeme] A primeira significa carente do supérfluo, que vive modestamente, com o necessário e a segunda, significa mendigo, desprovido de qualquer sustento.

    Na interpretação de Mateus 5:3 isto faz muita diferença!

    Fonte - http://www.descobrindo.com.br