sexta-feira, 2 de julho de 2010

UM DIA NA VIDA DE UM NÃO DIZIMISTA



O “não dizimista” acorda de manhã e não encontra palavras para orar, seu semblante é carrancudo, e seu prognóstico para o dia que começa é dos um dos piores possíveis, ele logo pensa: “nada pior do que um dia após o outro, pois terei mais um dia em que terei de lutar pelo meu sustento, que aliás, só depende do meu esforço!”. Ele se levanta, e ao sentar-se à mesa do café da manhã, contempla o pão, a manteiga, o café , o leite, mas não dá graças a Deus por nada! Ele apenas sussura uma prece mal-agradecida, um “obrigado, Senhor!” encabulado e sem ardor no coração.

Ele sai para o trabalho, dedica-se com empenho durante suas oito horas de batente, e logo já tem planos para os gastos advindos de tão grande peleja. Ele raciocina consigo mesmo, à semelhança daquele louco do texto de Lucas 12, que pensava em derribar seus celeiros e construir outros maiores a fim de abrigar todos os seus víveres. A vida de um não dizimista é desgastante, pois ela se limita ao “já”, ao “agora”, e não tem nenhuma consideração no viés da eternidade. Tudo é cogitado para as conquistas materiais e o curioso é que no caso de meu personagem aqui, mal o dinheiro recebido como salário chega em suas mãos ele se dissipa rapidamente. Um dia, o não dizimista chegou até a pensar: “Será que o fato de eu não poder cumprir meus compromissos com o salário que recebo é sinal de que estou sob o peso do devorador que o Senhor Deus se compromete a expulsar da vida de quem é fiel em suas contribuições? Ele se lembra de Malaquias 3:11: “E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos”. Mas, logo o não dizimista pensa consigo mesmo (de novo, sempre sozinho!), esse é um texto do Velho Testamento, não tem nada ver com o “tempo da graça” que vivemos hoje! Mais, uma vez ele prefere se enganar do que pura e simplesmente, crer!

Ai, chega o momento mais curioso do dia do não dizimista, é quando ele vai à sua igreja (sim, ele é membro de uma igreja evangélica!). Chegando lá ele estranha que o culto está diferente, e ele repara nos detalhes: o templo está imundo, pois ele nunca contribuiu para o pagamento da zeladora. Além disso, as lâmpadas estão apagadas (ele não contribui também para o pagamento da energia elétrica do templo). Também ele fica mais ainda chocado quando não recebe um boletim na sua chegada, pois ele não colabora também no pagamento da secretária, ventilador nem pensar (ele não ajudou na compra do mesmo, e ainda mais agora, sem energia elétrica). Ele senta-se sozinho, para variar, pois os outros não dizimistas nem lá apareceram, sabe por que? Porque aquela seria a noite do levantamento de oferta missionária, e eles nem ousaram participar!

Ele logo se pergunta: onde está o pastor, quero falar com ele, me aconselhar… mas, ele descobri que como nunca dizimou, se dependesse de sua colaboração, o pastor jamais teria conseguido sustento para a sua família. Resultado: o culto do “não dizimista” não tem pastor, por conseguinte, não tem música (o som, os instrumentos e os cursos mantidos pela igreja aos músicos todos são oriundos dos dízimos dos fiéis!). Ora, não há culto, não há altar, não há vida, não há solenidade, não há Deus!

O nosso “não dizimista” começa a chorar! Ele se lembra dos apelos bíblicos ligados à entrega voluntária e generosa de contribuições para a causa do Senhor, para o sustento de sua obra! Textos como:

(Números 18:21) – E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação.

(Deuteronômio 12:11) – Então haverá um lugar que escolherá o SENHOR vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome; ali trareis tudo o que vos ordeno; os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e toda a escolha dos vossos votos que fizerdes ao SENHOR.

(II Crônicas 31:5) – E, depois que se divulgou esta ordem, os filhos de Israel trouxeram muitas primícias de trigo, mosto, azeite, mel, e de todo o produto do campo; também os dízimos de tudo trouxeram em abundância.

(Neemias 10:37) – E que as primícias da nossa massa, as nossas ofertas alçadas, o fruto de toda a árvore, o mosto e o azeite, traríamos aos sacerdotes, às câmaras da casa do nosso Deus; e os dízimos da nossa terra aos levitas; e que os levitas receberiam os dízimos em todas as cidades, da nossa lavoura.

(Malaquias 3:8) – Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.

E isso, ele lembrou-se só do Antigo Testamento. Mas, o Senhor ainda lhe fez lembrar dos exemplos vivos do Novo Testamento. Como aquela fala de Jesus que não devemos omitir o dízimo da prática de nossa piedade:

(Mateus 23:23) – Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.

O Senhor ainda teve misericórdia do nosso “não dizimista” ao fazê-lo reflitir naquele culto às escuras do exemplo daquele viúva que “deu tudo o que tinha” e recebeu uma palavra de consideração entusiasta:

- E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas; E disse: Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva;(Lucas 21:2,3)

Dai, houve quebrantamento! O nosso amigo “não dizimista” resolveu se converter de verdade, e se comprometeu a ser fiel na entrega de seu dízimo mês a mês. O final da história, quem é dizimista sabe como foi… Seu dinheiro mês a mês passou a dar para todas as suas despesas, ele passou a acordar todos os dias com uma oração sincera para ser feita a Deus, e, como coroação de tudo: seu culto passou a ter mais vida, mais calor e ele deixou de sempre estar sozinho, afinal de contas: igreja é relacionamento!

Ah! não posso deixar de citar aqui: os desafios missionários de sua igreja passaram a ser todos ultrapassados! E ele pôde gritar à plenos pulmões: sou participante da obra de Deus e não mero expectador! Em outras palavras, ele disse: “Chega de ser parasita!”.

Pr.Ezequias A. Marins
Pastor da Igreja Batista Central em Japuiba – Angra dos Reis-RJ
ezequias@ibacen.com.br