quinta-feira, 31 de março de 2011

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quarta-feira, 9 de março de 2011

O CANSAÇO MINISTERIAL DA FAMÍLIA PASTORAL?

O CANSAÇO MINISTERIAL DA FAMÍLIA PASTORAL?

 

Por Valter Moura
Um dos obstáculos mais complicados a ser encarado pela família pastoral está relacionado com o cansaço ministerial. Pastores e pastoras, suas esposas, seus esposos e filhos tem se deparado com este fato, que ao meu ver, é inevitável dentro do círculo ministerial. Em alguns casos, este cansaço parece fatal, causando a desmotivação e o desligamento do próprio pastor do seu ministério, enquanto que em outras situações, permanece o pastor no ministério, sem, no entanto, a sua família.
Ao longo dos meus quinze anos de ministério já dividi com a minha família estes momentos. O problema não estava em mim, ou em minha esposa ou nos meus filhos. Quantas foram as vezes em que carregamos a culpa diante daqueles momentos, pensando que estávamos sendo vítimas de “fraqueza espiritual”. Contudo, no decorrer destes anos tenho percebido que centenas de colegas de ministério compartilham comigo do mesmo fato. Recordo-me do dia em que tive a oportunidade de visitar um colega cujo trabalho estava marcado pelos sinais de um ministério de êxito. Sua igreja estava cheia, havia ministérios muito bem organizados e liderados por uma equipe bastante competente. A igreja mantinha um notável ministério de engajamento social na cidade e, apesar de tudo, o meu colega confidenciou, “Eu e minha esposa estamos cansados de tudo isso.” Perguntas inevitáveis me vieram à mente e eu e minha esposa temos ainda tentado respondê-las. Perguntas que você e sua família estão certamente fazendo. No que consiste este cansaço ministerial? Quais os fatores causadores deste esgotamento ministerial na família pastoral? Quais são as possíveis conseqüências e como lutar contra elas?
Ao meu ver, poderíamos definir cansaço ministerial como sendo um esgotamento, um estado de fadiga e desmotivação para com uma causa para a qual você entregou a sua vida, seus talentos e seu tempo. A expressão chave nesta definição é desmotivação para com uma causa. A verdade mais óbvia em relação à desmotivação é que ela acontece em circunstâncias em que os resultados finais não justificam o empenho da dedicação. Ouvi de um pastor amigo que vivia um situação de cansaço ministerial, pastoreando uma igreja média, a seguinte palavra: “Valter, não estou cansado de Deus e nem da vocação, mas da igreja.” Cada vez mais ouço dizer do cansaço dos heróis da igreja evangélica brasileira. Culpá-los? Dizer que estão fraquejando? Não, eu não creio que esta seja uma avaliação justa. Eles e suas famílias estão simplesmente cansados e, talvez, cansados do que viram e do que sofreram em função das cargas desnecessárias que lhes impuseram.
O quadro até aqui exposto, nos conduz a adentrar na área dos fatores causadores deste esgotamento ministerial que apesar de possuirem fatores internos ligado à própria família do pastor, também tem a ver com os fatores externos causados pelo ambiente de trabalho.
Portanto, as causas deste cansaço ministerial são:
1. O confronto com os poderes de uma estrutura arcaica. É crescente o número de pastores que pertencem à uma geração de leitura bíblico- teológica contemporânea mas que ministram em igrejas calcificadas e desbotadas pela desatualização. É inevitável o choque, a tensão e consequentemente o cansaço. Pessoalmente, creio que mudanças podem acontecer em estruturas assim, mas o preço para o líder é alto e precisamos estar conscientes de que o desgaste da família pastoral é algo muito provável. Somente na física é que forças opostas se atraem. Na vivência teológica, os atritos decorrentes do gerenciamento de forças (visão de mundo, mentalidade, concepção de vida) opostas é altamente desgastante e cansativo. A consciência deste fato ajuda a discernir e interpretar as nossas reações e nortear as nossas opções de futuro ministerial.
2. A pressão que as pessoas colocam sobre a família pastoral em termos de jogar sobre ela uma responsabilidade do tipo “dois pesos e duas medidas”. O que queremos dizer com isto é que, em vários níveis as pessoas da igreja estabelecem regras para a família pastoral que não estabelecem para si mesmas. É muito provável que alguém julgará com critérios diferentes a ausência do filho do pastor que resolveu ir à uma outra atividade ao invés de estar presente na reunião dos jovens no sábado à noite. O mesmo não aconteceria com qualquer outro jovem da igreja. Nestes anos de ministério, temos observado as pessoas com as posturas mais contraditórias possíveis. Lembro-me de um dia em que eu e minha família não pudemos estar presente no aniversário de uma determinada pessoa que era membro da igreja. A comemoração deste aniversário entrou em choque com uma programação já marcada antecipadamente. Alguém muito próximo a este aniversariante fez severas críticas a mim e à minha família, dizendo que fomos omissos como líderes da igreja. Dois meses depois, este aniversariante seria responsável por liderar uma determinada programação na igreja. No dia, eu e a minha família estávamos presentes e a pessoa que havia feito o comentário, cobrando de nós uma postura em relação àquela pessoa que dizia ser seu grande amigo, desta vez não estava presente para prestigiá-lo, considerando que seria a primeira experiência de seu “amigo” à frente de um trabalho na igreja. Razão: foi passear. Eu e minha esposa comentamos um com o outro o fato e, humanamente falando, pela primeira vez percebemos como isto era desumano.
Eu não tenho dúvidas que alguém possa afirmar que isto seja uma tremenda tolice. Caro leitor, eu queria dizer a você que uma gigantesca somatória de exemplos simples como este perfazem um grande total na vida da família pastoral. Meu filho mais velho, 11 anos, perguntou há poucos dias para mim por que é que as pessoas exigiam de nós algo que eles não exigiam de si mesmos. Ele demonstrou cansaço deste sistema de “fazer religião”. Como a minha família, outras famílias de pastor e pastoras tem dado respostas diferentes a este tipo de estímulo. Uns, inclusive respondem mais radicalmente (filhos envolvidos com drogas, revoltados com crentes, desinteressados da igreja, etc). Sabe, é muito simples dizer que o pastor ou pastora não souberam administrar a sua casa. Esta idéia é, no mínimo, uma tentativa de não assumir a responsabilidade de que a igreja, em alguns casos, é o agente de tensão na família pastoral. Particularmente, não espero dos meus filhos nada além de um comportamento cristão e humano; não os oriento para corresponderem às expectativas das demandas culturais da igreja evangélica, mas para que correspondam ao princípio de estarem convertidos para o Senhor e o compromisso do testemunho cristão. Finalmente, não os sobrecarrego com a minha agenda pastoral.
Uma outra causa refere-se à idéia presente de que pastor não pode ter amigos. Infelizmente, tenho de admitir que há pastores que assim também pensam. Ouvi de uma pessoa que falava em seu estudo sobre as características da igreja evangélica brasileira, que há lideranças de igrejas que fazem questão de mudar os seus pastores freqüentemente na tentativa de impedir que estes criem laços de amizades dentro das comunidades que pastoreiam. Ironicamente, é também intrigante notar que aqueles que no seio da comunidade se levantam para fazerem suas observações sobre as “preferências” do pastor nas amizades pessoais, são exatamente as mesmas pessoas que desejariam estar próximas para manipular esta amizade em algum tipo de benefício pessoal. É algo meio semelhante ao poder de influência que o Paulo César Farias tinha no governo Collor. Guardando as devidas proporções, observamos que este tipo de influência não está reservada apenas ao meio político.
Quando olhamos para a vida de Jesus, o pastor por excelência, observamos que um dos fatos marcantes de seu ministério foram os relacionamentos que Ele construiu sobre o amor e a afetividade. Aliás, a própria doutrina da Trindade caracteriza esta dimensão de relacionamento, testemunhando que as três pessoas, Deu-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito se interagem sob a dimensão da amizade. Jesus chamou aos seus discípulos de amigos. Preferiu esta palavra ao invés da palavra servos por considerar que amigo se tornou palavra-símbolo, sacramento, do novo relacionamento a partir da história da redenção. Como sacramento, a palavra amigo evoca saudades, vontade de rever novamente, compromisso de cuidar. Idéias e sentimentos que a palavra servo jamais evocaria. Não há dúvidas que este modelo precisa ser considerado por pastores, líderes e membros de igrejas. No caso dos pastores, a atitude mais coerente a ser tomada seria considerar de foro íntimo as suas opções no que diz respeito às amizades. Acima de tudo, trata-se de uma questão de privacidade manter os amigos que tem e escolher os que quer. Além disso, é salutar e humano que estes relacionamentos amigos prezem por uma pauta de assuntos e programas para além daqueles próprios da igreja, o que funciona como um exercício de prevenção para este cansaço ministerial. Tenha sua roda de amigos como companheiros do peito, reservando à amizade o prazer de estar numa mesa ou saindo juntos apenas para desfrutar do prazer de estar junto com alguém com quem se simpatiza. Esta tem sido uma prática que tem contribuído para a saúde da alma da nossa própria família.
É óbvio que estas causas acabam por refletir de alguma maneira na vida da família pastoral e o sentimento de solidão é uma das conseqüências. É irônico afirmar que a família que possui o privilégio de se relacionar com o maior número possível de pessoas dentro de uma específica comunidade de fé, também possa viver a realidade de se sentir só. Não diríamos que trata-se apenas de um sentimento de solidão, mas a verdade é que a família do pastor vive também a realidade de estar só. Parte desta realidade decorre da dificuldade que o pastor e sua família tem em compartilhar com as pessoas suas própria pressões.
Do fator solidão se depreende a questão da confiança. Para falar mais claramente, o fato é que há uma crise tremenda de confiança por parte da família pastoral. Mais do que céticos, o pastor, a pastora e sua família acabam por iniciar um processo de isolamento, “santo sarcasmo” e “imaculada ironia” no que diz respeito à confiança nas pessoas. São tantos os golpes, decepções e desencontros que é praticamente impossível não se iniciar um mecanismo de “feedback”(reação, retorno) positivo, ou seja, confiança quebrada alimenta o sistema gerando desconfiança velada. A pergunta que fica é: quem no meio eclesiástico há de cuidar da família pastoral? Não são muitas as opções para quem necessita total segurança em sua confidência. Nesta questão, não se trata apenas do pastor ou da pastora, mas também de sua esposa, seu esposo e filhos. Você já imaginou o desastre que seria se um deles resolvesse abrir a alma escolhendo a pessoa errada?
Deixaríamos uma lacuna neste artigo se não considerássemos, por fim, algumas idéias para lutar contra este cansaço ministerial.

1. É de fundamental importância ter a consciência de que as demandas das pessoas e do seu ambiente de trabalho nada tem a ver com a vocação pastoral. Isso é “mania” de um sistema eclesial doentio e desvirtuado. Particularmente, já não dou mais atenção ao chavão de alguns “conselheiros”, “é meu irmão isso faz parte da vocação”.
2. É preciso constatar a necessidade de uma eclesiologia que trate das responsabilidades da igreja para com os seus líderes. O que se constata é que na relação família pastoral e igreja as responsabilidades tem sido abordadas apenas numa via de mão única. Fala-se muito da responsabilidade do líder para com a igreja e quase nada da responsabilidade da igreja para com o pastor e sua família e a sobrevivência da vocação. Não estamos desconsiderando aqui a crise de integridade pastoral; no entanto, é tempo de alertar que há um outro aspecto da questão, ou seja, o fato de que a família pastoral também precisa ser honrada e cuidada. Sem dúvida alguma, felizes são aqueles pastores, pastoras e respectivas famílias que são muito bem cuidados por algumas igrejas. Mas triste e aflito são os pastores, as pastoras com um coração cheio da graça de Deus e que apesar disso não são honrados pelo “povo de Deus.”
Por fim, há duas atitudes que o pastor e sua família podem tomar.
1. Crie a sua própria privacidade. Cada família deve procurar estabelecer isto de acordo com a sua própria realidade. Evite que a agenda da igreja interfira na liberdade de escolha de sua família.
2. Se você e sua família está em crise, admita a necessidade de um acompanhamento. Procure alguém de confiança com quem você pudesse ser confidente. Ou quem sabe, você pode encontrar um ministério, como a MAPEL, que tem como um dos seus propósitos o de encorajar a família pastoral.
O Pr. Valter Moura é pastor presbiteriano há 15 anos. Ligado à Presbyterian Church in America, trabalha num projeto de plantação de igreja em Danbury, CT, Estados Unidos. É casado com Leides e tem três filhos, Filipe, Bruno e Guilherme).

 fonte:
http://pastorderville.wordpress.com/2007/11/23/o-cansaco-ministerial-da-familia-pastoral/

O pastor cuida do rebanho, mas quem cuida do pastor? - //

O pastor cuida do rebanho, mas quem cuida do pastor? - //