segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Há abusos em nome de Deus"






"Há abusos em nome de Deus"
Marília Camargo César*
Jornalista relata os danos do assédio espiritual
cometido por líderes evangélicos.
A igreja evangélica está doente e precisa de uma reforma. Os pastores se tornaram intermediários entre Deus e os homens e cometem abusos emocionais apoiados em textos bíblicos. Essas são algumas das afirmações polêmicas da jornalista Marília de Camargo César em seu livro de estreia, Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão), que será lançado no dia 30. Marília é evangélica e resolveu escrever depois de testemunhar algumas experiências religiosas com amigos de sua antiga congregação.


ÉPOCA – Por que você resolveu abordar esse tema?
Marília de Camargo César – Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que frequentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heroico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que tinha dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente.

ÉPOCA – O que você considera abuso religioso?
Marília – Meu livro é sobre abusos emocionais que acontecem na esteira do crescimento acelerado da população de evangélicos no Brasil. É a intromissão radical do pastor na vida das pessoas. Um exemplo: uma missionária que apanha do marido sistematicamente e vai parar no hospital. Quando ela procura um pastor para se aconselhar, ele diz: “Minha filha, você deve estar fazendo alguma coisa errada, é por isso que o teu marido está se sentindo diminuído e por isso ele está te batendo. Você tem de se submeter a ele, porque biblicamente a mulher tem de se submeter ao cabeça da casa”. Então, essa mulher pede um conselho e o pastor acaba pisando mais nela ainda. E usa a Bíblia para isso. Esse é um tipo de abuso que não está apenas na igreja pentecostal ou neopentecostal, como dizem. É um caso da Igreja Batista, que tem melhor reputação.

ÉPOCA – Seu livro questiona a autoridade pastoral. Por quê?
Marília – As igrejas que estão surgindo, as neopentecostais (não as históricas, como a presbiteriana, a batista, a metodista), que pregam a teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”. É a figura do profeta, do sacerdote, que existia no Antigo Testamento. No Novo Testamento, Jesus Cristo é o único mediador. Mas o pastor dessas igrejas mais novas está se tornando o mediador. Para todos os detalhes de sua vida, você precisa dele. Se você recebe uma oferta de emprego, o pastor pode dizer se deve ou não aceitá-la. Se estiver paquerando alguém, vai dizer se deve ou não namorar com aquela pessoa. O pastor, em vez de ensinar a desenvolver a espiritualidade, determina se aquele homem ou aquela mulher é a pessoa de sua vida. E ele está gostando de mandar na vida dos outros, uma atitude que abre um terreno amplo para o abuso.

ÉPOCA – Você afirma que não é só culpa do pastor.
Marília – Assim como existe a onipotência pastoral, existe a infantilidade emocional do rebanho. A grande crítica de Freud em relação à religião era essa. Ele dizia que a religião infantiliza as pessoas, porque você está sempre transferindo suas decisões de adulto, que são difíceis, para a figura do pai ou da mãe, substituí­dos pelo pastor e pela pastora. O pastor virou um oráculo. Assim é mais fácil ter alguém, um bode expiatório, para culpar pelas decisões erradas.

ÉPOCA – Quais são os grandes males espirituais que você testemunhou?
Marília – Eu vi casamentos se desfazer, porque se mantinham em bases ilusórias. Vi também pessoas dizendo que fazer terapia é coisa do diabo. Há pastores que afirmam que a terapia fortalece a alma e a alma tem de ser fraca; o espírito é que tem de ser forte. E dizem isso apoiados em textos bíblicos. Afirmam que as emoções têm de ser abafadas e apenas o espírito ser fortalecido. E o que acontece com uma teologia dessas? Psicoses potenciais na vida das pessoas que ficam abafando as emoções. As pessoas que aprenderam essa teologia e não tiveram senso crítico para combatê-la ficaram muito mal. Conheci um rapaz com muitos problemas de depressão e de autoestima que encontrou na igreja um ambiente acolhedor. Ele dizia ter ressuscitado emocionalmente. Só que, com o passar dos anos, o pastor se apoderou dele.

ÉPOCA – Qual foi a história que mais a impressionou?
Marília – Uma das histórias que mais me tocaram foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Em uma igreja, ela ouviu que estava curada e que, caso se sentisse doente, era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença autoimune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo, mas ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.

ÉPOCA – Por que demora tanto tempo para a pessoa perceber que está sendo vítima?
Marília – Os abusos não acontecem da noite para o dia. No primeiro momento, o fiel idealiza a figura do líder como alguém maduro, bem preparado. É aquilo que fazemos quando estamos apaixonados: não vemos os defeitos. O pastor vai ganhando a confiança dele num crescendo. Esse líder, que acredita que Deus o usa para mandar recados para sua congregação, passa a ser uma referência na vida da pessoa. O fiel, por sua vez, sente uma grande gratidão por aquele que o ajudou a mudar sua vida para melhor. Ele quer abençoar o líder porque largou as drogas, ou parou de beber, ou parou de bater na mulher ou porque arrumou um emprego. E começa a dar presentes de acordo com suas posses. Se for um grande empresário, ele dá um carro importado para o pastor. Isso eu vi acontecer várias vezes. O pastor gosta de receber esses presentes. É quando a relação se contamina, se torna promíscua. E o pastor usa a Bíblia para legitimar essas práticas.

ÉPOCA – Você afirma que muitos dos pastores não agem por má-fé, mas por uma visão messiânica...
Marília – É uma visão messiânica para com seu rebanho. Lutero (teólogo alemão responsável pela reforma protestante no século XVI) deve estar dando voltas na tumba. O pastor evangélico virou um papa, a figura mais criticada pelos protestantes, porque não erra. Não existe essa figura, porque somos todos errantes, seres faltantes, como já dizia Freud. Pastor é gente. Mas é esse pastor messiânico que está crescendo no evangelismo. A reforma de Lutero veio para acabar com a figura intermediária e a partir dela veio a doutrina do sacerdócio universal. Todos têm acesso a Deus. Uma das fontes do livro disse que precisamos de uma nova reforma, e eu concordo com ela.

ÉPOCA – Se a igreja for questionada em seus dogmas, ela não deixará de ser igreja?
Marília – Eu não acho. A igreja tem mesmo de ser questionada, inclusive há pensadores cristãos contemporâneos que questionam o modelo de igreja que estamos vivendo e as teologias distorcidas, como a teologia da prosperidade, que são predominantemente neopentecostais e ensinam essa grande barganha. Se você não der o dízimo, Deus vai mandar o gafanhoto. Simbolicamente falando, Ele vai te amaldiçoar. Hoje o fiel se relaciona com o Divino para as coisas darem certo. Ele não se relaciona pelo amor. Essa é uma das grandes distorções.

ÉPOCA – No livro você dá alguns alertas para não cair no abuso religioso.
Marília – Desconfie de quem leva a glória para si. Uma boa dica é prestar atenção nas visões megalomaníacas. Uma das características de quem abusa é querer que a igreja se encaixe em suas visões, como querer ganhar o Brasil para Cristo e colocar metas para isso. E aquele que não se encaixar é um rebelde, um feiticeiro. Tome cuidado com esse homem. Outra estratégia é perguntar a si mesmo se tem medo do pastor ou se pode discordar dele. A pessoa que tem potencial para abusar não aceita que se discorde dela, porque é autoritária. Outra situação é observar se o pastor gosta de dinheiro e ver os sinais de enriquecimento ilícito. São esses geralmente os que adoram ser abençoados e ganhar presentes. Cuidado.
REPORTAGEM de Kátia Mello, Revista ÉPOCA, 29 junho 2009 /N.580,pg. 69-70.
*Marília de Camargo César, 44 anos, jornalista, casada, duas filhas. Editora assistente do jornal O Valor, formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero .Seu livro de estreia é Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O apagão Espiritual de nossas Igrejas



O apagão Espiritual de nossas Igrejas

Hoje, muitas igrejas estão vivendo um grande apagão. Não falo do ocorrido no final de ano passado (2009) que deixou grande parte do Brasil na escuridão, mas sim da lâmpada que ilumina e que paulatinamente tem sido retirada da Igreja: “A Tua Palavra é lâmpada para guiar os meus passos,é luz que ilumina meu caminho”(Salmos 119,105.
Conforme a declaração das Igrejas Batistas, a Palavra de Deus é a autoridade absoluta em questões de fé (isso inclui a prática eclesiológica)e de vida. Ela serve para reger ou guiar o cotidiano da igreja,bem como seus membros, no glorificar a Deus. No entanto muitas igrejas estão se afastando dos ensinamentos da Palavra de Deus e absorvem valores contemporâneos que destroem a fé.
Relativismo- O primeiro desses valores que prejudicam a fé é o Relativismo, que diz que as verdades religiosas (não somente elas, mas as verdades morais,políticas,científicas, etc)são produtos de valores de uma época, de uma cultura. Assim elas variam conforme o grupo social. O que era moralmente errado na época dos não é hoje. Tudo é relativo!
Subjetivismo- O segundo valor é o subjetivismo, que preconiza que a validade da verdade é limitada ao sujeito que conhece e julga. Segundo essa linha de pensamento, a verdade é individual. Cada sujeito teria a sua verdade. A verdade é subjetiva. Vale lembrar o dito de Jesus “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade (João17,17). Jesus cria na verdade objetiva.
Pragmatismo- O terceiro é o pragmatismo, segundo o qual o que importa é a funcionalidade. O correto é aquilo que funciona e satisfaz. As idéias e atos de qualquer pessoa somente serão verdadeiras se servem a solução imediata de seus problemas. Neste caso, toma-se a verdade pelo que é útil naquele momento exato, sem considerar as conseqüências. Segundo William James (fundador do Pragmatismo), “se as idéias teológicas provam que têm valor para a vida concreta, são verdadeiras, pois o pragmatismo as aceita, no sentido de serem boas para tanto. O quanto serão verdadeiras dependerá inteiramente de suas relações com as demais verdades, que têm, também de ser reconhecidas”.
Esse afastamento da Palavra de Deus tem influência direta no culto. A verdade tem sido paulatinamente trocada pela funcionalidade. Caso a igreja cresça isso é que importa, pois os fins justificam os meios. Isso é a verdade. No culto muitas são as atrações: Corais, Bandas, peças teatrais, testemunho, revelações, videoclipes e até lutas marciais (recentemente motivo de reportagem do Jornal Americano “The New York Times”, etc. No meio de tudo isso fica uma pergunta: Onde fica a pregação da Palavra de Deus? A pregação da Palavra muitas vezes se resume a 15 minutos de fama. E quando supostamente se revindica o tempo devido a pregação no culto ela é desperdiçada com experiências pessoais.
Precisamos entender que sem a pregação da Palavra de Deus, não há edificação da igreja. Meus amados irmãos sigam o conselho do grande reformador João Calvino “A Palavra que deveria brilhar sobre todas as pessoas como lâmpada foi retirada de nós. O único modo de trazê-la novamente é por meio genuína pregação da Palavra”.
Muitas igrejas vivem a síndrome do algo mais. É necessário algo mais para motivar, para atrair. A Palavra de Deus deixou de ser suficiente. O Salmo 19 diz que “a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma”. Isso significa que ela é suficiente para satisfazer a alma do ser humano. Ela tem todos os recursos que nos possibilitam viver uma vida abundante em Cristo. Não podemos permitir que o modo de vida contemporâneo relativize a Palavra de Deus, que é viva e eficaz (Hebreus 4,12) e permanece para sempre (Mateus24,35). Em tempo de confusão devemos voltar para a Palavra de Deus para ver se as coisas são assim mesmo. Esta atitude denota a nobreza da Fé (Atos17,11). É preciso trazer novamente às igrejas a lâmpada que ilumina e mostra o caminho, que oriente e protege o povo de Deus (Salmos 119,105). Fora da orientação bíblica vivemos num lago congelado de casca fina, sem segurança e sem estabilidade (aproprio-me da analogia do sociólogo Zygmunt Baumam fez da frase de Ralph W. Emerson – “Quando patinamos sobre gelo fino, nossa maior segurança está na velocidade” – para ilustrar a instabilidade do mundo pós-moderno).
Gritemos com toda a convicção que a Bíblia é a autoridade absoluta em nossas igrejas e em nossas vidas. Apropriemo-nos de suas promessas,de suas verdades, de suas orientações e de seu poder transformador (Romanos 1,16). É essa apropriação que faz a grande diferença em nossa existência. Que o Senhor nos dê um bom entendimento de sua Palavra.
Baseado no artigo do OJB, escrito pelo Pr. Paulo N. Júnior.