domingo, 7 de junho de 2009

Uma Questão de Hermenêutica

Tenho ouvido durante anos certas discussões e até acaloradas com relação se Judas o Iscariotes participou da Ceia do Senhor ou não, a princípio parece um assunto de pouca relevância, mas não o é, pois se Judas participou do Ceia do Senhor, isso implicará em vários argumentos teológico, inclusive sobre a Salvação. Lembro-me da passagem (Atos 8:30) - E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? O diácono Filipe que estava pregando nos arredores da Cidade de Samaria e ouvindo a voz do Senhor de maneira miraculosa aparece no deserto próximo a Jerusalém, para ensinar ao Eunuco, onde faz, a pergunta acima. Dada esta pequena introdução sobre a importância de entender o que se lê, e isto é hermenêutica. Vejamos o que os evangelhos sinóticos falam sobre a instituição da Ceia do Senhor : Em (Mateus 26:20-29)lemos - E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, comendo eles, disse: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair. E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a dizer-lhe: Porventura sou eu, SENHOR? E ele, respondendo, disse: O que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair.Em verdade o Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido.E, respondendo Judas, o que o traía, disse: Porventura sou eu, Rabi? Ele disse: Tu o disseste. E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai. O Senhor antecipa o Sêder, a celebração da páscoa, que era feita em uma ceia para relembrar o povo que saiu do cativeiro do Egito; no começo do texto de Mateus , segundo tradição era único dos doze, uma vez que , Lucas e João Marcos , sendo este último autor do primeiro evangelho, tendo Lucas e Mateus utilizado este evangelho e usando ainda outras fontes “Q”, daí o nome Evangelho Sinótico (Os Evangelhos de S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas, assim chamados dada a semelhança de suas versões). Dar-se a entender que Judas estava presente em toda a ceia, mas note, Jesus diz: , até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai – Jesus afirmar que beberia ou estaria em comunhão plena com os apóstolos nos Céus (Parousia), desculpe a ressalva, Jesus é Deus, não mente, não peca, não deixa de cumprir com a Sua Santa Palavra; Porém se Judas participou do momento da Instituição da Ceia do Senhor, ou da Nova Aliança.Podemos ser levados a um terrível erro teológico, “Judas foi Salvo” , pois Cristo havia prometido beber de novo com eles. Em Marcos 14,17-25 - E, chegada a tarde, foi com os doze. E, quando estavam assentados a comer, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me. E eles começaram a entristecer-se e a dizer-lhe um após outro: Sou eu? E outro disse: Sou eu? Mas ele, respondendo, disse-lhes: É um dos doze, que põe comigo a mão no prato. Na verdade o Filho do homem vai, como dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para o tal homem não haver nascido. E, comendo eles, tomou Jesus pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele. E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que por muitos é derramado. Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus. Em Marcos vemos a mesma afirmação feita em Mateus, e vale também a mesma ressalva, em Lucas 22:14-19 - E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos. E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus. E, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós; Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus. E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. O médico Lucas podemos nos valer o mesmo entendimento. Um dos princípios hermenêuticos bíblicos é que podemos elucidar um texto aparentemente obscuro com um outro que trata do mesmo assunto de maneira mais clara, por isso, vejamos o Evangelho de João, um dos últimos livros a ser escrito, temos um bom esclarecimento sobre a possível contovérsia, podemos observar em (João 13:1) - ORA, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim. Aconselho aos amigos leitores que leiam todo o capítulo 13 de João para uma boa compreensão do texto; seguindo no capítulo treze chegamos ao clímax da narrativa da ceia e da Instituição da Ceia do Senhor (João 13:18-35) - Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar. Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou. Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou. Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair. Então os discípulos olhavam uns para os outros, duvidando de quem ele falava. Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus. Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava. E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é? Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão. E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar. Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora. Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. No texto o Senhor Jesus reunisse com seus discípulos para comemorar a Páscoa, que é uma ceia, diante da palavra de Jesus sobre uma traição, os discípulos ficam sem saber o que estava acontecendo e Pedro pede a João que está próximo a Jesus que pergunte quem o trairia. E o Senhor diz: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão..., feito isto Judas sai para traí-lo, porém os discípulos pensam que ele havia saído para fazer compras para a Páscoa (Sêder), pois este era tesoureiro, após a saída de Judas acontece a última bênção ( irei explicar mais a frente), e da Um Novo Mandamento , ou seja, o Novo Pacto na Sua morte e ressurreição, vejamos : Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar. Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora. Um novo mandamento vos dou..., Judas não está com eles, o mesmo só volta a cena já no Monte das Oliveiras , onde os onze estavam e Judas aparece depois com seus algozes. Esta é uma questão muito importante, pois se Judas o Iscariotes tivesse participado da Ceia do Senhor, das duas uma, ou Judas foi salvo, pois o Senhor disse que beberia de novo com eles do fruto da vide no Reino, ou com o perdão da aplicação, Jesus seria mentiroso, logo não seria Deus. Podemos concluir com os próprios textos bíblicos que Judas não participou da Ceia do Senhor, apenas da primeira parte da ceia pascoal. Devemos nos lembrar como a boa hermenêutica nos ensina ver todo o contexto do fato, Jesus e seus discípulos eram judeus, a páscoa ( uma das mais importantes do calendário) era uma festa judaica e tinha seus ritos, por isso, valho-me da explicação das bênçãos no Sêder:

O Sêder (Ordem) Celebração da Páscoa Judaica
Durante o Sêder, quem conduz a cerimônia deve obedecer a seguinte ordem:
Kadesh - fazer o kidush (benção)
O Sêder começa com o kidush feito sobre um copo de vinho cheio. Cada um dos presentes tem obrigação de beber no decorrer do Sêder quatro copos de vinho, contendo cada um pelo menos 86 mililitros. Estes quatro copos lembram as quatro expressões de salvação mencionadas na Tora (Pentateuco)
“...E vos tirarei do Egito... e vos salvarei da escravidão... e vos redimirei com braço estendido... e vos tomarei para mim como povo...”
Ao terminar de recitar o kidush, cada um dos presentes bebe o primeiro dos quatro copos, reclinando-se sobre o lado esquerdo, como expressão de liberdade..
Urchatz – Lavar as mãos. Lavam-se as mãos como normalmente se faz antes de comer o pão, porém não se fala a berachá (benção). Isto porque o karpás é mergulhado na água salgada, o que exige lavar as mãos antes.
Karpás – Salsão. Mergulha-se um pedacinho de salsão (com menos de 18 g) na água salgada e, antes de comê-lo, recita-se a seguinte bênção (pensando no marór, pois a berachá também é válida para este): Baruch Atá Ad-onai El-ohenu melech haolam borê peri haadamá.
Yachats – Partir a matzá. Na bandeja do Sêder há três matzot. Toma-se a matzá do meio, quebrando-a em duas partes para lembrar o pão da pobreza, que nunca está inteiro. O pedaço menor é recolocado, entre as duas matzot inteiras, na bandeja do Sêder. O pedaço maior é guardado dentro de um guardanapo, sendo escondido. Este pedaço é o aficoman, que será comido no final do Sêder. As crianças costumam procurar o aficoman, ganhando brindes se o encontrarem, como pretexto para deixá-los acordados.
Maguid – Recitação da Hagadá (Livro recitado em Pêssach “Páscoa”). Descobre-se a matzá e começa-se a leitura da Hagadá. Ha lachmá aniá. Este é o pão da pobreza – recita-se até o final do primeiro trecho. Enche-se novamente o copo de vinho e o mais jovem da casa recita, então, as quatro perguntas.
Ma nishtaná – As quatro perguntas. Por que esta noite é diferente de todas as outras noites? Em todas as noites não temos obrigação de mergulhar os alimentos nem uma só vez, enquanto que nesta noite o fazemos duas vezes? Em todas as noites comemos pão com levedura ou matzá, ao passo que esta noite, só matzá? Em todas as noites comemos todo tipo de verduras, enquanto que esta noite comemos marór - ervas amargas? Em todas as noites comemos sentados, enquanto que esta noite todos nos reclinamos? A resposta começa com Avadim hainu – escravos fomos – e faz-se uma narrativa histórica, falando sobre a escravidão e os sofrimentos dos judeus no Egito. Conta-se sobre as pragas e sobre os milagres realizados por Deus para a redenção de seu povo.
A terminar o texto da Hagadá com a bênção Asher guealanu, bebe-se o segundo copo de vinho, reclinando-se sobre o lado esquerdo, sem dizer a berachá.
Rochtsá – Lavagem das mãos. Antes do Hamotsi (bênção do pão) lavam-se as mãos para a refeição, recitando a seguinte bênção: Baruch Atá Ad-onai El-ohenu melech haolam asher kideshanu bemitsvotav vetsivanu al netilat yadaim.
Motsi Matzá – Bênção da matzá. Segurando as três matzot (as duas inteiras e a quebrada), recita-se a bênção do pão (Hamotsi): Baruch Atá Ad-onai El-ohenu melech haolam hamotsi lechem min haaretz.
Imediatamente solta-se a matzá inferior e, segurando a matzá superior e a do meio, diz-se: Baruch Atá Ad-onai El-ohenu melech haolam asher kideshanu bemitsvotav .
Daí podemos concluir que na última bênção , o qual o Senhor acaba com esta Lei Cerimonial, Ele faz a Nova Aliança no Seu Corpo e Sangue, e os discípulos comem aí a Ceia do Senhor em Memória a Ele até que todos nós lavados não por água mas pelo poderoso Sangue de Jesus tenhamos comunhão eterna com Ele nos céus. Ao Senhor toda Honra, Glória e Louvor, pelo séculos dos séculos. Amém.

Pr. Celmir Guilherme Moreira Ribeiro
Pastor da Primeira Igreja Batista em Fragoso
Professor do Seminário Teológico Batista Fluminense- campus Mageense
e do Seminário Bíblico Batista do Rio de Janeiro.

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